Quando interesses escusos visam influenciar o próximo conclave

O cardeal Dom José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília, mostra ficha para acompanhamento de votação em conclave de 2005. Foto: O Globo.

Por: Fratres in Unum.com – A imprensa já está em campanha pré-eleitoral, esperando que o próximo conclave, tal como ocorre nas democracias liberais, se dobre às suas reivindicações.

Damos dois exemplos. Primeiro, de um veículo laico. A Folha de São Paulo divulga hoje a seguinte notícia: “Africano é criticado por ligar gays a pedofilia” . O alvo a ser espezinhado: Cardeal Peter Turkson. Qualquer um que fizer uma simples busca nos arquivos do Fratres verá que Sua Eminência não é nenhum bastião do temido ultra-conservadorismo, como adoram rotular os veículos que, a exemplo dos católicos não praticantes que só pisam numa igreja em casamentos, batizados e velórios, só têm a Igreja em sua pauta quando o assunto é algum escândalo ou um… conclave.

Vamos à matéria:

"Em entrevista à rede CNN, ele [Cardeal Turkson] disse que a África registra menos casos de abuso porque muitos povos do continente reprovam o relacionamento de pessoas do mesmo sexo. “Os sistemas tradicionais da África protegem sua população dessa tendência. Em muitas comunidades e culturas, o homossexualismo e as relações de [pessoas do] mesmo sexo não são toleradas”, afirmou Turkson. A ONG americana Snap, que atende vítimas de pedofilia, afirmou em nota que o comentário é “horrível” e “desqualifica” o cardeal de Gana para liderar a igreja. [...]  “As declarações do cardeal são inaceitáveis. Se ele for eleito o novo papa, a igreja vai jogar sal nas feridas das vítimas e mandar um sinal claro de que os padres criminosos não serão punidos”, disse à Folha a presidente da Snap, Barbara Blaine."

Uma ONG desconhecida no Brasil que encontra um jornal para veicular suas idéias por aqui. Esta mesmíssima matéria-campanha contra o Cardeal Turkson, que repercute uma nota oficial da ONG, está agora circulando por vários jornais do país e do mundo. Se isso não é jornalismo orquestrado, o que mais pode ser?

O outro caso vem de uma agência católica. Zenit afirma ser “uma agência de notícias internacional” que atua “de forma independente” — embora esta independência não seja muito apreciada até por seu fundador, que, no fim de 2011, deixou sua direção por não corresponder a “uma idéia clara da identidade institucional da agência Zenit que a partir de agora a congregação dos Legionários de Cristo quer comunicar“.

Pois bem: Zenit, historicamente ligada à “conservadora” Legião de Cristo, apresentou ontem, 19, uma isenta e super independente matéria sobre o expoente da hermenêutica da ruptura Cardeal Luis Antonio Gokim Tagle [ler aqui e aqui]. Título e subtítulo são singelos: “Um cardeal otimista – Luis Antonio Gokim Tagle, Arcebispo de Manila, suscita esperança e alegria“. A matéria prossegue em tom de completa imparcialidade:

"Entre os cardeais que entrarão no Conclave pela metade de Março, o arcebispo de Manila, Luis Antonio Gokim Tagle, (56 anos) está suscitando um notável interesse por parte da imprensa mundial. Ele é jovem, brilhante, muito comunicativo, prestativo, simples, especialmente atento a cada interlocutor. No Colégio Cardinalício só o cardeal indiano Moran Moran Mor Baselios Cleemis Thottunkal (54 anos) é mais jovem do que ele. É considerado um teólogo sólido e moderno. Escreveram dele que é “Uma das vozes mais representativas do pensamento teológico asiático”, tanto é que aos 40 anos ingressou na Comissão Teológica Internacional. Segundo a agência britânica Reuters: “Junta o carisma de João Paulo II e a estatura teológica de Bento XVI…”.

Um prodígio! Jovem, brilhante, muito comunicativo, prestativo, simples. Nada mais, nada menos. Para melhorar, ainda é asiático! Zenit se une, assim, àqueles nada conservadores que pedem um Papa com tudo isso e mais um pouco.

Talvez o propósito de antecipar o início do conclave não seja de todo ruim. Os Cardeais querem e a Santa Sé avalia a idéia. Ter que esperar até a metade de março e deixar nossos Cardeais, que não são ingênuos, mas que já foram mais brilhantes, à mercê desse verdadeiro lobby de jornais e agências independentes, não parece ser uma boa idéia.

Fonte: http://fratresinunum.com/2013/02/20/quando-interesses-escusos-visam-influenciar-o-proximo-conclave/

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